Se você pensa que o Brasil está precisando de mais gente desacreditada como você, então está completamente enganada. Era o que eu estava me segurando para dizer, acompanhando todo aquele papo de “ah, deixa disso, nosso país não tem mais jeito”. É essa a visão que boa parte dos brasileiros tem sobre a própria nação, imagine então o que pensam aqueles que são de fora. Para eles, aqui é carnaval todo dia, acompanhado de futebol, cerveja e feijoada. Mas, diga-me uma coisa, estrangeiro tem lá mais a ver com o Brasil do que o próprio brasileiro?
Um clichê de paraíso sexual paira sobre nós, mas a gente tem preguiça de ir contra isso… Preguiça. Foi o que eu ouvi. Somos tão preguiçosos para nos revoltarmos contra qualquer coisa quanto são preguiçosos os políticos que cuidam? de nosso país, tão pouco levado a sério. Ouvi ainda que políticos idiotas estão no poder porque o povo idiota os colocou lá. É tudo culpa do povo idiota – que sempre será idiota – do qual você por um acaso também faz parte… Você que aceita, concorda e contribui para a concepção de que o Brasil já é um país completamente no fundo do poço é tão idiota quanto.
Mais adiante na conversa, comentaram sobre o sublime clichê de que lei alguma funciona por aqui, o que ainda foi refutado por um “pensar desse jeito que tá errado. As leis se aplicam pra quem segue e quem pensa que nem você deveria passar a seguir também”. Mas, para meu maior incômodo, a primeira insistiu em rebater que essa realidade nunca vai mudar, que o jogo acabou. Nessa hora, eu pediria licença para perguntar: e você, moça, acha que existe alguma chance de que alguma coisa mude pensando dessa forma? Não, não, acho que você nem faz questão de que isso mude, ainda bem porque isso aqui não tem jeito, não, moça. “Esse é o Brasil.” Então, já que não se importa, qual seu objetivo na vida, moça?
Você não escolheu ser brasileira, mas não custa conviver com isso. É como pai e mãe, aqueles que você ama incondicionalmente e, não importa o quê, você estará ali para eles assim como eles estarão sempre para você.
“Não vamos mudar 500 anos de história”, mas eu gostaria de mudar pelo menos os seus 15 ou 16 anos de vida. Não, não, eu não me importo, acho que você é que não tem jeito e não quero me dar o trabalho de tentar mudar alguma coisa. Você acha mesmo que valeria à pena tentar transformar essa sua, essa nossa geração maravilhosa que já virou de ponta cabeça recém-chegada na conturbada adolescência? Que é isso, abuso de consciência!
Chega, vamos falar de uma forma que você possivelmente entenda… Nós – eu sei que você também é brasileira – a todo momento cavamos a própria cova, aos poucos retirando um punhado de terra aqui e ali, com alguns que ainda tentam nos jogar um balde d’água, transformando tudo em um lamaçal, não sei qual a bagunça maior.
Meu incômodo maior não é a grande desigualdade de realidade que aqui existe, ou seja lá o que pensam lá fora sobre isso, mas sim que ainda há tanta gente sem fé como você. Gente que não deve acreditar nem em si mesmo, dirá no restante da humanidade. Portanto, desejo a você boa sorte daqui para frente, espero que não se frustre muito quando descobrir que vai ter que enfrentar e conviver com esse povo idiota, justamente quando não adiantar fazer mais nada.